Então para a primeira proposta de Alberto Caeiro trabalhei o seguinte texto:
“O quê? Valho Mais que uma Flor”
“O quê? Valho mais que uma flor
Porque ela não sabe que tem cor e eu sei,
Porque ela não sabe que tem perfume e eu sei,
Porque ela não tem consciência de mim e eu tenho consciência dela?
Mas o que tem uma coisa com a outra
Para que seja superior ou inferior a ela?
Sim tenho consciência da planta e ela não a tem de mim.
Mas se a forma da consciência é ter consciência, que há nisso?
A planta, se falasse, podia dizer-me: E o teu perfume?
Podia dizer-me: Tu tens consciência porque ter consciência é uma qualidade humana
E só não tenho uma porque sou flor senão seria homem.
Tenho perfume e tu não tens, porque sou flor...
Mas para que me comparo com uma flor, se eu sou eu
E a flor é a flor?
Ah, não comparemos coisa nenhuma, olhemos.
Deixemos análises, metáforas, símiles.
Comparar uma coisa com outra é esquecer essa coisa.
Nenhuma coisa lembra outra se repararmos para ela.
Cada coisa só lembra o que é
E só é o que nada mais é.
Separa-a de todas as outras o facto de que é ela.
(Tudo é nada sem outra coisa que não é)”
Para este texto e de acordo com as características inerentes a este heterónimo “o guardador de rebanhos”, decidi fazer uma representação que na qual nos pudessem ser transmitidas as características do mesmo. Como tal decidi usar a característica que melhor fala por ele usando como base o conceito de Simplicidade.
“E só não tenho uma porque sou flor senão seria homem” Neste verso o poeta da natureza encarna-a dando atribuindo-se a si mesmo o conceito de flor, como se pertencesse ele mesmo à Natureza. Neste caso, em vez de trabalhar o conceito que gira à volta da representação de uma flor, trabalhei o conceito de algo ainda mais natural: A folha. Afinal o que há de mais simples que uma folha?
Em relação a Ricardo Reis utilizei o seguinte texto:
“De Novo Traz”
“De novo traz as aparentes novas
Flores o verão novo, e novamente
Verdesce a cor antiga
Das folhas redivivas.
Não mais, não mais dele o infecundo abismo,
Que mudo sorve o que mal somos, torna
À clara luz superna A presença vivida.
Não mais; e a prole a que, pensando, dera
A vida da razão, em vão o chama,
Que as nove chaves fecham,
Da Estige irreversível.
O que foi como um deus entre os que cantam,
O que do Olimpo as vozes, que chamavam,
'Scutando ouviu, e, ouvindo,
Entendeu, hoje é nada.
Tecei embora as, que teceis, Grinaldas.
Quem coroais, não coroando a ele?
Votivas as deponde,
Fúnebres sem ter culto.
Fique, porém, livre da leiva e do Orco,
A fama; e tu, que Ulisses erigira,
Tu, em teus sete montes,
Orgulha-te materna,
Igual, desde ele às sete que contendem
Cidades por Homero, ou alcaica Lesbos,
Ou heptápila Tebas Ogígia mãe de Píndaro. “
Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas.Para além do concito do epicurismo, o heterónimo usa outro conceito como principal temática: ”O Carpe Diem”. “O Carpe Diem” (em Latim) significa "colha o dia" ou "aproveita o momento" e é segundo esta linha que o poeta trabalha e tece os seus escritos. Para representar o conceito de tempo muito presente nos poemas “e considera a brevidade, a fugacidade e a transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é efémero”, resolvi procurar algo que se pudesse coadunar com essa imagem. Sendo assim a imagem do “papiro” foi a que me pareceu mais apropriada, pois esta simboliza o passado.
Para o heterónimo Álvaro de Campos seleccionei o seguinte excerto do texto a Ode Triunfal para trabalhar:
"Ode Triunfal"
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical —
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força —
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro.
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
E há Platão e Virgíllo dentro das máquinas e das luzes eléctricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinqüenta,
Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,
(…)
Como o futurista que Álvaro de Campos é, tive necessidade de trabalhar numa imagem que representasse bem o conceito de tecnologia inerente à época. Não só procurei seleccionar algo que tivesse relação com esse conceito, mas também tentei ligar com o sentido do poema em causa.” Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! “. Álvaro de Campos vivia a máquina de uma forma eufórica. A maquina a trabalhar era o pulsar do seu coração. Para este fim então seleccionei uam das imagens mais marcantes do futurismo e evolução: A Roda. Esta não só é importante por fazer parte do poema em si, mas também representa a roda do relógio, uma das grandes invenções sobre a qual o mundo se rege.
Nesta proposta de trabalho em que se pretendia aprender a moldar da melhor forma a tipografia e as suas técnicas, aprendi melhor o que se pode fazer com simples frases. A nível da utilização das fontes procurei manter sempre a fonte para os vários projectos, a fonte Arial, de forma a provar que com a mesma fonte conseguimos fazer variadas representações.
A maior dificuldade para execução do trabalho deu-se na fase inicial de pesquisa, em que gastei muito do meu tempo procurando descobrir a melhor forma de adequar certas representações ao devido heterónimo, tendo em conta a pluralidade de opções que a proposta permitia.
Tenho um balanço positivo deste trabalho, pois me proporcionou a uma abertura de mente maior e uma resolução rápida e eficaz que se coadunasse com o pretendido. Foi necessário um esforço da minha parte, mas relativamente ao final, “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena” .
Sem comentários:
Enviar um comentário